Um beijo
Um beijo e o universo em expansão
Já antevemos o seu colapso
e nos apegamos à ilusão
de que haverá o novo dia, sem tempo, sem espaço
E o nosso beijo, o gesto da criação
Um beijo
Um beijo e tudo o que não existe, refaço
desmancho e torno a fazer
e lego ao firmamento o horizonte
que cinge quem sou, quem devo ser
e crio o homem como a uma ponte
entre dois mundos inclaros, de limite baço
Um mundo
em um beijo, todo um mundo
e a consciência do bem e do mal
O amor profundo
surgido na ruptura ilusória do que é o real
Deixar o paraíso, jamais renúncia, opção
Amar é ciência, pecado, não.
E agora, nessa condição de sujeito
ergo a cabeça em devoção, bato no peito
rogo e peço e oro e escolho
novamente, o mesmo céu, o sonho
Momentos disformes e vazios
quando eu não era, homem ou Deus
Aqui padeço, mas escolhi
e me ofereço, em carne e sangue
para que chegue o dia em que, por ti
anunciarei minha derrota e morte
como homem, como amante
e cairei coroado, tombando-me o fardo, exangue
de toda a criação, descrente
Nesse dia, tu saberás, farei ecoar
o som do martírio que canta o refrão:
amei, amei, amei...
E será tua vez, como minha mãe e irmão
de limpar meu suor, me levantar
e negar:
amei, amei, amei.
No eclipse em que esconderei o Sol
para que não me vejas chorando e sofras
as estrelas, já mortas, vagarão distribuindo luzes falsas
E, no instante de meu desalento
lembrarei-me da criação, minha criação
e, pois, todos tomarão conhecimento dessa Paixão
que foi,
um beijo
O nosso primeiro beijo
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